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domingo, 28 de junho de 2009

É comum para os amantes dos Estados Unidos, sempre buscarem os melhores fatos de sua grandiosidade como nação e como superpotência militar e econômica, porém é bem típico das pessoas esquecerem-se das mazelas da sociedade americana e das deficiências do seu governo o que não a diferenciam apesar da sua pujança dos demais países do mundo que tanto costumam criticar do alto de sua superioridade, um bom exemplo é a crescente atuação de suas milícias fundamentalistas e racistas que atualmente perpetram ações contra imigrantes mexicanos ilegais e que promovem ondas de invasões de propriedades e por vezes chacinas de famílias como é o caso de Raul Junior Flores e a filha Brisenia Flores, 10 anos, foram mortos em casa na cidade de Arivaca, Arizona
28 de junho de 2009
The New York Times
"Alguém acaba de entrar e atirar em minha filha e meu marido!", gritou a mulher ao atendente do serviço de emergência 911. "Eles estão voltando! Estão voltando!".
Vários tiros são ouvidos numa gravação do telefonema. A mulher, Gina Gonzalez, sobreviveu ao ataque após se armar com o revólver de seu marido, mas tanto ele quanto sua filha de 10 anos morreram.
Os assassinatos do mês anterior semearam o terror nessa pequena cidade próxima à fronteira com o México, em grande parte porque as autoridades os têm atribuído a um grupo rebelde de patrulheiros civis da fronteira.
As três pessoas presas pelo crime incluem a líder da Minutemen American Defense, uma ramificação, no Estado de Washington, do movimento Minutemen, cujos membros perambulam pela fronteira em busca de pessoas tentando entrar ilegalmente no país.
Antigos integrantes descrevem a chefe do grupo, Shawna Forde, 41 anos, como possuidora de sentimentos extremos contra os imigrantes, muitas vezes assustadores, inclusive para pessoas acostumadas a visões linha-dura em relação ao policiamento de fronteiras.
As autoridades dizem que os três suspeitos estavam atrás de dinheiro e drogas, a serem usados para financiar atividades de vigilantismo, e que esses indivíduos tinham ligação com ao menos uma outra invasão de domicílio na Califórnia.
"Acreditava-se que havia uma quantia considerável de dinheiro no local", disse Clarence Dupnik, xerife do condado de Pima, porque, segundo ele, o marido de Gonzalez, Raul Junior Flores, tinha previamente se envolvido com narcotráfico, uma afirmativa que a família da vítima nega.
Nem o defensor público do condado de Pima, representante de Forde, nem os advogados dos outros suspeitos, Jason E. Bush, 34 anos, e Albert R. Gaxiola, 42 anos, comentaram sobre o caso. Os três permanecem sob custódia, acusados de assassinato em primeiro grau, invasão de propriedade e roubo. Merril Metzger, meio-irmão de Forde que trabalhou seis meses para o grupo logo após sua fundação em 2007, disse que Forde frequentemente viajava armada de Washington para o Arizona. Em março, ao passar pela casa de Metzger em Redding, Califórnia, Forde apresentou um plano de ação ao grupo, afirmou Metzger, em entrevista telefônica. "Ela se sentou e falou sobre como iniciaria uma milícia secreta e roubaria traficantes de drogas", disse ele.
Metzger deixou o grupo, segundo ele, alarmado por uma série de coisas, incluindo a exigência de lealdade extrema por parte de Forde, até mesmo no que dizia respeito à escolha do cardápio.
"Tive que fazer um juramento e parte dele era que eu não poderia ingerir comida mexicana", disse ele.
Outro ex-membro do grupo de Forde, Chuck Stonex, um empreiteiro independente aposentado, disse que Forde havia comentado sobre comprar um rancho próximo a Arivaca e construir um quartel. Ele contou que em outubro fez uma excursão com ela pelo deserto ao norte da região, onde, vestindo trajes camuflados e carregando revólveres e rifles, eles fizeram buscas por imigrantes ilegais.
"É como caçar", disse Stonex, descrevendo as técnicas de rastreamento usadas pelo grupo. "Se você sai à caça de veados, você quer ficar à espreita e aprender qual é o padrão de ação deles e que rastros eles deixam".
Stonex disse que tratou de um dos suspeitos, Bush, por ocasião de uma ferida no dia do ataque à família Gonzalez. Gonzalez presumidamente atirou em Bush para repelir os invasores, mas, disse Stonex, a ferida não levantou suas suspeitas, porque, segundo ele, Forde deu o que parecia ser uma explicação plausível: "haviam sido agredidos por bandidos da fronteira".
"Estavam muito relaxados, com uma conversa casual, normal", ele relembra. Um pequeno número de americanos sempre viu as patrulhas de fronteira como um dever patriótico, mas sua mais nova encarnação ¿ o movimento Minutemen, que tomou seu nome emprestado de milícias civis formadas durante a Guerra de Independência ¿ ganhou força em 2005, quando centenas de voluntários se dirigiram a locações próximas à fronteira.
Suas patrulhas inicialmente receberam elogios de alguns líderes, incluindo o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mas também levantaram a preocupação de que tais atividades estavam no limiar do racismo e da xenofobia. Com o passar do tempo, o movimento Minutemen também sofreu com dissidências internas, com alguns grupos, como o de Forde, defendendo táticas que tendiam cada vez mais ao confronto, enquanto outros simplesmente se dedicavam ao monitoramento das fronteiras, reportando qualquer passagem ilegal às autoridades.
Desde os assassinatos em Arivaca, membros de alguns grupos mais conhecidos ligados ao movimento têm rapidamente se dissociado da Minutemen American Defense, enquanto outros começaram a fazê-lo muito antes. Em janeiro, a Minutemen de San Diego, com 750 membros, começou a alertar as pessoas em seu website para que evitassem Forde.
As autoridades disseram que os três suspeitos acreditavam que o marido de Gonzalez, Flores, 29 anos, guardava tanto drogas quanto armas em sua remota casa, localizada em um rancho. De acordo com a ligação de Gonzalez ao 911, os suspeitos vestiam uniformes que se pareciam com os de agentes da lei e chegaram pouco depois da meia-noite no dia 30 de maio. Disseram à família que estavam procurando por um fugitivo.
Segundo o xerife Dupnik, há uma ampla atividade de narcotráfico entre Arivaca e a fronteira. Tal afirmação enfureceu os residentes de Arivaca, uma cidade de aposentados, artistas e trabalhadores cerca de 80 km ao sul de Tucson, no Estado do Arizona. "Essa é uma boa cidade", disse Fern Loveall, 76 anos. "É um bom lugar para se viver e é um bom lugar para criar seus filhos. O que estão dizendo a respeito daqui não é verdade".
Membros da família de Flores também negaram que ele tivesse qualquer conexão com o tráfico de drogas. "Ele era um bom homem", disse Gilbert Mundary, 80 anos, avô de Flores. "Sei o que aconteceu, mas não consigo imaginar o porquê".
A casa da família ficou em silêncio esta semana. Uma bandeira dos Estados Unidos balançava na sacada e três rosas cor-de-rosa adornavam a porta da frente. Atravessando uma estrada de terra, no centro comunitário local, uma foto de Brisenia, a filha assassinada de Flores e Gonzalez, havia sido emoldurada, com um pequeno laço negro afixado a ela.
Entre os fregueses da cantina La Gitana, localizada na única via principal da cidade, as emoções variam de um sofrimento abjeto à raiva.
"Já vi pessoas entrarem nesse bar, simplesmente colocarem as mãos no rosto e, de repente, lágrimas começam a escorrer", disse Karen Lippert, atendente. Ela acrescentou que embora um dos suspeitos fosse do local ¿ Gaxiola ¿ Forde havia vindo de fora da cidade. "Isso não é coisa da nossa gente", ela disse. "Não é como nossa gente age".
Tradução: Amy Traduções
The New York Times